O que aconteceria se todas as árvores desaparecessem?

03/05/2021 |

Na ficção existem várias obras que retratam a falta de água e de recursos naturais. Em Mad Max: Estrada da Fúria (2015) a história se passa em um futuro onde árvores e a água são escassos. No filme O Livro de Eli (2010) as pessoas tentam sobreviver num ambiente devastado pela guerra. Já Interestellar (2014) mostra a luta pela sobrevivência após os recursos naturais se esgotarem.

Essas obras de ficção tem um fundo de realidade: segundo estudiosos dedicados à pesquisa, exploração e educação sobre as árvores, as florestas são a salvação do mundo e sem elas perdemos elementos fundamentais para a vida na Terra.

As árvores prestam serviços que variam do armazenamento de carbono e conservação do solo até a regulação do ciclo da água. Elas apoiam os sistemas alimentares naturais e fornecem casa para inúmeras espécies, inclusive para nós. 

Mesmo com essa importância muitas pessoas tratam as árvores como algo descartável, um produto a ser explorado para ganho econômico ou um inconveniente no caminho do desenvolvimento.

Estima-se que desde o início da prática da agricultura, há cerca de 12 mil anos, derrubamos quase metade das 5,8 trilhões de árvores que existiam no planeta. Esses dados foram publicados na revista Nature, em 2015.

Boa parte deste desmatamento ocorreu em anos recentes. Desde o início da era industrial as florestas foram reduzidas em 32%. Os 3 trilhões de árvores restantes no mundo estão sumindo rapidamente. Estima-se que cerca de 15 bilhões de árvores são derrubadas todos os anos.

Embora seja improvável que uma catástrofe aconteça e as árvores sejam extintas, especialistas apontam o que ocorreria se não houvessem mais árvores no mundo.

Se as árvores desaparecerem, haverá extinções em massa

Se as árvores sumirem do dia para a noite, o mesmo ocorreria com boa parte da diversidade da Terra. A perda do habitat natural já é o principal fator de extinção das espécies. Isso seria catastrófico para plantas, animais, fungos e todos os grupos de organismos.

As extinções iriam além das florestas e a vida selvagem acabaria em dias. O clima do planeta seria drasticamente alterado no curto e longo prazo, já que as árvores funcionam como bombas hidráulicas que sugam a água do solo e depositam na atmosfera. Essa ação contribui para a formação de nuvens e chuvas.

As árvores também evitam inundações pois elas retém a água ao invés de deixá-la ir para lagos e rios. Além disso as árvores mantém o solo no lugar que, de outra forma, seria levado pela chuva.

As áreas florestadas se tornariam secas e, quando a chuva chegasse, haveria inundações desastrosas. A erosão maciça impactaria os oceanos, sufocando recifes de coral e outros habitats marinhos. Ilhas e até mesmo áreas costeiras seriam engolidas pelo mar. Ao remover as árvores, o planeta perde grandes quantidades de terra para o oceano.

O planeta seria muito mais quente

As árvores geram um resfriamento localizado. Elas fornecem sombra, algo que mantém a temperatura do solo mais baixa e absorvem calor. Elas ainda canalizam a radiação solar e convertem a água no estado líquido para o estado gasoso. Com tudo isso perdido, os locais onde haviam árvores seria muito mais quente. Estima-se que a remoção de 25km² de floresta faz com que as temperaturas locais subam entre 1ºC e 2ºC.

Além disso as árvores armazenam carbono em seus troncos e removem o dióxido de carbono da atmosfera, reduzindo o aquecimento global. Com todas as árvores destruídas, os ecossistemas se tornariam uma fonte de emissão de dióxido de carbono. Em pouco tempo haveria uma liberação de 450 gigatoneladas de carbono na atmosfera, mais do que o dobro já produzido pela humanidade. Esse carbono ainda penetraria nos oceanos, causando a acidificação da água e possivelmente matando tudo, exceto as águas-vivas.

A economia entraria em colapso

Muito antes do aquecimento global catastrófico a humanidade já sentiria os efeitos dessa perda. O aumento do calor, a interrupção do ciclo da água e a perda de sombra afetaria imediatamente bilhões de pessoas.

Estima-se que cerca de 1,6 bilhão de pessoas dependem diretamente das árvores para sobreviver. Inclusive para colher alimentos e remédios. Essas pessoas enfrentariam a fome e a pobreza. Elas também se veriam incapazes de cozinhar ou aquecer suas casas devido à falta de lenha.

Os sistemas agrícolas (que muitas vezes são os responsáveis pelo desmatamento) entrariam em colapso. Culturas que dependem de sombra, como o café e outros cultivos que dependem de polarizadores que habitam as árvores possivelmente acabariam.

Devido às mudanças drásticas de temperaturas, locais antes adequados para agricultura se tornariam inadequados. E, com o tempo, todos os solos de todos os lugares se tornariam inférteis, exigindo quantidades absurdas de fertilizantes.

Mortes e prejuízos para a saúde

Essas mudanças devastadoras também impactariam à saúde das pessoas. As árvores ajudam a limpar o ar e absorvem poluentes. Pesquisadores do Serviço Florestal dos EUA estimam que as árvores removem 17,4 milhões de toneladas de poluição anualmente, isso apenas nos Estados Unidos. Se esse serviço fosse comercializado ele estaria avaliado em US$ 6,8 bilhões.

Caso as árvores desaparecessem, haveria surtos de doenças raras ou o surgimento de novas doenças. Pesquisadores descobriram que o ebola se transfere para os seres humanos em pontos críticos de fragmentação florestal. Uma perda repentina de árvores pode desencadear surtos de infecções zoonóticas, como o vírus nipah, vírus do nilo ocidental e o próprio ebola. Haveria também um aumento considerável das doenças transmitidas por mosquitos, como malária e dengue.

Outro ponto relevante está em nosso bem-estar mental: pessoas que passam tempo caminhando em bosques e florestas possuem saúde melhor, menos estresse, melhores níveis de energia e sono mais regulado.

Um estudo de 1984 provou que as árvores ajudam as pessoas a melhorar: pacientes que se recuperam de cirurgias passam menos tempo no hospital quando o quarto possui uma vista para uma área verde. Além disso, pesquisas recentes revelam que passar mais tempo próximo a gramados e árvores reduz os sintomas de TDAH e melhora o desempenho escolar e profissional.

Depois de algum tempo sem árvores os seres humanos teriam dificuldades para sobreviver. Bilhões de pessoas morreriam de fome, calor, seca ou inundações. Possivelmente a humanidade sobreviveria apenas em comunidades que possuem um conhecimento tradicional de como viver em locais sem árvores. Um exemplo destes povos são os aborígenes da Austrália. Também é possível que a vida persista em ambientes artificiais criados com recursos tecnológicos, mas isso seria privilégio para poucos.

Pelo que sabemos, o Planeta Terra é o único que possui vida em nossa galáxia. Um dos motivos disso é devido à existência das árvores. Vivemos em um local com recursos finitos. Cabe a nós, usá-los com sabedoria. Por isso, ajude a preservar o planeta e as árvores.